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CRIAÇÃO DO MUNDO DOS BANTU
CRIAÇÃO DO MUNDO DOS BANTU

Criação do Mundo Segundo a Tradição Bantu

 

 

              Segundo a história tradicional contada pelos mais antigos e categorizados Nganga (sacerdotes) das tribos bantu (Angola), todos os povos negros descenderiam dos Bungu e estes diretamente de Nzambi (Deus Supremo da mitologia bantu). Eis a história tal qual foi contada, da criação do Mundo e a ascendência divina desses povos.  Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga (Deus Supremo e Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter criado o Mundo e tudo que nele existe, criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que, por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e dominasse todos os animais selvagens por ele criados.

Informou à esposa que a partir daquele momento ela chamar-se-ia Ná Kalunga, em virtude da filha que daria à luz, Kalunga.

Com efeito, tal como Nzambi havia anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha.
Esta foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na Sanzala dia Nzambi (aldeia de Deus).

Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi informou a Ná Kalunga, sua esposa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retornaria.

Tal notícia não agradou a divina esposa, que tentou opor-se a que sua filha o acompanhasse. Porém, Nzambi lembrou-lhe que ela havia sido por ele criada para lhe obedecer, visto que, além de seu marido, era também seu Deus.
Contrariada, mas impotente para obrigar Nzambi a desistir de seu intento, limitou-se a deixar a filha ir com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.
Logo que anoiteceu, Nzambi instantaneamente, construiu uma Kuabata (palhoça), na qual instalou uma só cama. Ao ver o leito único, a filha recusou-se a dormir com o pai e saiu chorando da cabana.

Com recusa da filha e não podendo convencê-la de outra forma, disse-lhe que se não viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta.

Transtornada de medo pelo que acabara de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana, deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite, mas durante todo o tempo que a viagem durou.

Findada esta, regressaram à casa e, Ná Kalunga tal como tinha previsto, verificou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida com fato e o desgosto, no meio das maiores blasfêmias, enforcou-se numa árvore perante os olhos atônitos da filha e de Nzambi, que nada fez para evitar tal suicídio.

Desgostoso pela atitude da mulher que não compreendeu os seus desígnios para povoar o Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente a amaldiçoou e transformou-a num espírito maligno, a quem deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na Terra).

A essa altura, Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga, a qual depois da morte da mãe passou a chamar-se Ndala Karitanga e a ser a segunda divindade.

Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que a deixou apavorada.

Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e insultá-la, dizendo que a devoraria, enquanto ela envergonhada, pedia perdão a mãe e dizia que de nada era culpada, posto que, seu pai tinha a obrigado a aceitar tal situação. No meio desta aflição, acordou e contou ao pai sobre o pesadelo.

Ele a sossegou, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que agora era espírito mal, pois nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedir comida. Portanto, Nzambi decidiu que era o que fariam.

Levantaram-se ambos e Nzambi preparou um pequeno montículo de terra junto à porta da casa, simulando uma sepultura.

Então disse à filha, que fosse buscar carne e outra comida e a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras: Mam’é nzanga ua-ku-kurila. Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n’eza ny ku ku cheha (minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, venho matar-te).

Passado algum tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual Nzambi deu também o nome de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade. 
Logo que seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, Nzambi ordenou-lhe que casasse com sua mãe Kalunga para que concebesse dele muitos filhos de ambos os sexos, a fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais. 
Cumprindo as ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram-se e tiveram um filho e uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse com sua mãe e a filha casasse com seu pai, dizendo que já não se justificava a primeira união que havia ordenado, informando-os ainda que, depois daquelas uniões, as seguintes se fizessem sós entre primos. 
 Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer para que sua descendência crescesse e se multiplicasse, para que lutassem contra as doenças e os feitiços que um dos descendentes do sexo feminino, viria a possuir porque lhes negaria, informou também que viriam outros descendentes divinos e que após deixarem a vida terrena, cada um dentro de sua atribuição, iria supervisionar o mundo que ele havia criado.

Nzambi despediu-se de todos, chamando depois o seu cão que sempre o acompanhava, dirigiu-se para a Sanzala Kasembe diá Nzambi (Aldeia Encantada de Deus) e dali subiu para o espaço, levando-o consigo.

Naquela altura as rochas estavam moles por terem sido formadas há pouco tempo. Ainda hoje se podem observar as pegadas esculpidas numa rocha ali existente, especialmente do pé direito de Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão. Essas pegadas existem também em diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola (Vide pré-história da Lunda), pois foi dali que Nzambi subiu à TCHEUNDA TCHA NZAMBI (aldeia de deus), ou céu como nós chamamos, onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e castigar os maus.

A pergunta feita a diferentes sacerdotes bantu, como é e quem foi que criou Nzambi. Responderam que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.
A resumida lenda que acabamos de expor foi contada por dois velhos naturais da região do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuca e o outro Sá Hongo, ambos já falecidos. Tendo falecido Luaco, e em sua terra natal com cerca de 90 anos em 1994, respectivamente.

Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola, de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a Sanzala Kasembe diá Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do Mbanze. Dão-lhe estes nomes por estarem perto do Meue (estrangulamento) do Kasai.

Neste ponto, o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Segundo a tradição oral, foi junto à nascente do Mbanze que se estabeleceram primeiramente os chefes e autoridades divinas, Ndumba ua Tembu, Muambumba, Muaxisenge e outros quando fugiram da soberania do Muatianvua.
Foi naquele mesmo ponto que mais tarde, reuniram-se novamente, e ali planejaram a separação e distribuição de terras que cada um deveria ocupar.
* Lenda é a narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.
* Nzambi s.m. – Deus Criador. Autor da existência e de suas características dominantes - o bem e mal.

Conquanto seja o Ente supremo, não rege diretamente o destino do Universo. No tocante ao nosso planeta, servem-se de intermediários as entidades espirituais. Em face das atribuições de que se revestem, assumem o caráter de semideuses. Por efeito desse privilégio, são a elas quem os crentes se dirigem em suas emergências. Consequentemente, a quem prestam culto.


Enquanto as entidades espirituais permanecem nas profundezas do globo, Nzambi paira em toda parte, sem lugar determinado. Pelo alheamento a que votou os problemas mundanos, só são invocados em última instância. Tal como noutros povos, também existem sinônimos para designá-lo, Kalunga, Lumbi lua Suku, etc.
Kalungangombe, o juiz dos mortos, tem o poder de suprimir a existência. Mas se Nzambi não concordar com a decisão, o mortal continuará subsistindo. Portanto, intervém quando necessário.

 

 Extraído do Livro: Crenças, Adivinhação e Medicina

Tradicionais dos Tchokwe da Lunda, que se encontram no Norte de Angola.