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ORIGEM DA NZO LUNDA KIOKO
ORIGEM DA NZO LUNDA KIOKO

TATA KWA NKISI "FÒKETÒLOROFÉ"

 

 

TANCREDO DA SILVA PINTO

 

 

 

                    

  Tancredo da Silva Pinto, escritor, compositor, sambista e umbandista brasileiro, nasceu em 10 de agosto de 1905 no município de Cantagalo, então Estado da Guanabara. Ainda na adolescência veio para o município do Rio de Janeiro. 
     Tancredo da Silva Pinto, Tata Nkisi, é considerado o organizador do culto de tradição Lunda-Kioko no Brasil e o responsável direto pela reunião dos adeptos dos cultos afro-brasileiros em federações culturais e umbandistas para defender o seu direito de ter e cultuar uma religião afro-brasileira. Seu nome religioso era Fọ̀lkétu Olóròfẹ̀. Foi chamado muitas vezes de Papa Negro da tradição Lunda-Kioko e da Umbanda. 
     Tancredo apesar de ter ficado famoso pelo grau sacerdotal Tata (pai), utilizado nos candomblés angola para designar o sacerdote, Tancredo da Silva Pinto, na hierarquia da umbanda, era tratado por Babalaô (do Yorùbá, Bàbáláwo). 
     Era filho de Belmiro da Silva Pinto e de Edwirges de Miranda Pinto, sendo seus avós maternos Manoel Luis de Miranda e Henriqueta Miranda. Sua árvore genealógica remonta a grandes estudiosos e praticantes de religiões tradicionais bantu. 
     Seu avô foi fundador dos primeiros blocos carnavalescos, tendo fundado os blocos Avança e Treme-Terra, bem como o Cordão Místico, uma mistura de samba de caboclo com o ritual africano, em que sua tia Olga saía vestida de Rainha Nzinga. 
         Em 1950, devido a grandes perseguições aos cultuadores do Candomblé e da umbanda nos mais diversos Estados da União, assim como no antigo Distrito Federal, fundou a Federação Espírita de Umbanda, com a qual rompeu em 1952. Viajou por quase todo o país, fundando filiais da Federação com o objetivo de organizar e dar personalidade aos cultos de matrizes africanas e à umbanda. Fundou as federações dos seguintes Estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e outros. Para ter maior divulgação de seu trabalho para o povo em geral, criou famosas e tradicionais festas religiosas como: Festa de Yemanjá, no Rio de Janeiro; Yaloxá, na Pampulha - Belo Horizonte; Cruzambê, em Betim, Minas Gerais; Festa de Preto Velho, em Inhoaíba - Rio de Janeiro; Festa de Xangô, em Pernambuco; Você sabe o que é Umbanda no Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, e finalmente a Festa da Fusão, realizada no centro da Ponte Rio-Niterói. 
     Segundo Tancredo da Silva Pinto, a primeira sociedade umbandista criada para defender os direitos dos umbandistas no Rio de Janeiro e no Brasil foi a União, fundada em 1941. Segundo ele, naquela época, devido às perseguições policiais, os cultos eram acompanhados por bandolim, cavaquinho e órgão, porque não era permitido tocar tambores (atabaques). No Rio de Janeiro, os cultos afro-brasileiros foram professados dessa maneira até 1950. 
   
     Foi significativa a posição de Tancredo da Silva Pinto contra as propostas de desafricanização da umbanda, proposta e divulgada nas palestras do 1º Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda (1941). Tancredo dizia que achava graça quando ouvia os líderes da umbanda dizendo que a religião sofre influência das tradições africanas. Para ele a umbanda é africana, é um patrimônio da raça negra (FREITAS e PINTO, 1957, p. 58). Esse viés africanista da umbanda pode ser visto em uma de suas afirmações “Terreiro de umbanda que não usar tambores e outros instrumentos rituais, que não cantar cânticos em linguagem africana, que não oferecer sacrifício de preceito e nem preparar comida de santo, pode ser tudo, menos terreiro de umbanda.”

Tata Tancredo sempre foi muito polêmico, como podemos ver nessa afirmação “Hoje uma vasta onda de mistificação invadiu a umbanda. Os intrusos criaram uma umbanda branca, uma umbanda mista, modificaram o ritual sagrado, e, pior, sob o ponto de vista espiritual, introduziram o comercialismo na seita. Escritores improvisados publicaram livros cheios de erros e fantasias, servindo a umbanda de capa a atividades inteiramente comerciais. Para completar a mistificação, pessoas que nada conhecem dos mistérios da umbanda, que nunca foram sacerdotes, que nunca fizeram ‘cabeça’, abriram centros e tendas, montaram consultórios luxuosos, onde os clientes são atendidos mediante fichas numeradas.” 
     Tancredo instituiu as festividades à Iemanjá no Rio de Janeiro - RJ, à exemplo das festividades que aconteciam em Salvador – BA. As primeiras aconteceram na mesma data que na Bahia, 02 de fevereiro, mas com o tempo elas passaram a ser feitas no dia 31 de dezembro. 

 Em vida ainda recebeu diversas comendas e homenagens pelos serviços prestados às religiões afro-brasileiras. Foi um fiel defensor da prática africanista ao culto umbandista e ao Omolokô. 
     Recebeu em sessão solene da Câmara Estadual do antigo Estado da Guanabara, o título de Cidadão Carioca pelos serviços prestados em favor do povo. Teve publicada mais de 30 obras literárias, divulgando a umbanda e a tradição Lunda-Kioko (Omolokô). Foi fundador e colaborador de diversos jornais e revistas destinadas a esclarecer e orientar os adeptos da religião afro-brasileira. O humilde e analfabeto estafeta dos correios escreveu diversas obras de cunho umbandista e manteve colunas diárias. 
     Protagonizou uma série de debates com outros intelectuais antropólogos e cultuadores do candomblé bantu, nigeriano e da umbanda a exemplo do W.W. da Matta e Silva (o fundador da umbanda esotérica). Para Tancredo, a umbanda tem raízes na África, que teria se desenvolvido, à exemplo do candomblé, nos quilombos e nas senzalas.

 No dia 02 de setembro de 1979, foi sepultado às 15:00hs na quadra 70, carneiro 3810 do Cemitério de São Francisco Xavier, Rua Pereira de Araújo, nº. 44, no Rio de Janeiro. As despedidas ao seu corpo foram realizadas no Ilê Babá Oxalufan, situado na Avenida dos Italianos, nº.1120, em Coelho Neto, onde seu corpo foi velado. No livro de registro de filhos de santo estão registrados mais de 3.566 filhos de santo que foram iniciados por Tata Tancredo. 
     O Ntambi, cerimônia de encomenda do corpo de pessoa falecida, foi realizado por José Catarino da Costa, conhecido como Zé Crioulo, confirmado como kixikarangoma do Terreiro de Tio Paulino da Mata e Tia Olga da Mata. 
     Uma das curiosidades de Tancredo, segundo o pesquisador, escritor, músico e compositor Nei Lopes é que ele teria sido Pai de Santo do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. 
     Nei Lopes publica um artigo, que aborda a biografia de Tata Tancredo.

 

 

ANTÔNIO PEREIRA CÂMELO

TATA KWA NKISI (OKÊ-ORUNKÊ)

 

 

 Com a chegada do Tata Tancredo em Minas Gerais, iniciou-se o processo de iniciação do culto Lunda-kiokô em Belo Horizonte. Dentre tantos filhos, Tata Tancredo Raspou o Tata Antônio Pereira Câmelo (Okê-Orunkê) que fez expandir as origens do culto em Belo horizonte. Tata Oke-Orunkê e sua esposa Néngua Yabiirú, rasparam vários filhos, tendo dentre eles dois que seriam o ponto de apoio a cultura Lunda-Kioko em Belo Horizonte.


 

 

 

 

NÉNGUA KWA NKISI EFIGÊNIA (BURUNGUZU)

E TATA KWA NKISI JOSÉ NERO (NGUZU KWA MPUNGU)

  

                                                                                                    

                                                       

 

Néngua Kwa Nkisi Efigênia Burunguzu, conhecida por Arranca-Toco pelos feitos históricos de seu catiço, iniciada no primeiro barco da Lunda-Kioko em Belo Horizonte na década 60, foi raspada pelas mãos do Tata Antônio Pereira Câmelo. Já seu marido, Tata José Nero Nguzu-Mpungu, foi iniciado por Néngua Isaura Iya-biru. Juntos, deram origem à Nzo Ji’ndanji Lunda-Kioko em Belo Horizonte, Minas Gerais.


 

 

 

 

 


 Fundada na década de 60 e registrada no ano de 1967, a Nzo (casa) se encontra desde 1979 instalada no bairro Cidade Nova, no coração de Belo Horizonte, onde Néngua Efigenia Burunguzu passaria pela sua maior superação, a infeliz perda de seu marido e companheiro, Tata kwa Nkisi José Nero Nguzu-Mpungu, que veio a falecer no dia 23 de janeiro de 1979. Este que se dedicou toda a sua vida a celebrar as divindades e entidades, junto a sua esposa e os 10 filhos, prestando caridades e auxiliando os mais necessitados que chegassem em sua Nzo (casa).

Com o falecimento do seu maior suporte de vida, a guerreira Néngua kwa Nkisi Burunguzu trava uma luta contra o tempo, a superação da dor e a dedicação às divindades.

No dia 30 de maio de 2000, a nação Lunda-Kioko entrara em luto, o culto afro-brasileiro de procedência Tchokwe acabara de perder aquela que foi uma das maiores sacerdotisas em Belo Horizonte. Falece e entra para a história das sacerdotisas lundas a inesquecível Néngua kwa Nkisi Efigênia Burunguzu.

 

  

 

NÉNGUA KWA NKISI JANAÍNA (YAKUNAN)

 

 

 Néngua Yá Kunan nasceu na cidade de Belo Horizonte, filha biológica de Efigênia Ferreira do Espírito Santo e José Nero do Espírito Santo, foi iniciada no culto de matriz Lunda-Kioko. Ainda muito nova, com apenas seis anos de idade passava pelos preceitos iniciais da tradição Lunda de Mona Nkisi (filha de santo), este que durou o período de sete anos. Aos 14 anos de idade, a mona nkisi Yá Kunan alcançava o seu primeiro objetivo dentro do culto, onde recebia os direitos de abrir sua própria nzo (casa) de culto e de ter os seus próprios filhos de santo. Em 1984 a mona nkisi Yá Kunan recebia o cargo de Néngua Kwa Nkisi. Daí em diante, sua caminhada foi traçada por árduos preceitos ao lado de sua mãe, com grande competência e perfeccionismo. Sua dedicação foi logo reconhecida por toda comunidade Lunda-Kioko.

 No ano de 1988, Néngua Yá Kunan raspa com muito caráter e sabedoria, auxiliada por sua Néngua, seu primeiro mona nkisi dentro da Nzo Lunda-Kioko. Em 1989 revela-se a notícia que todos esperavam, Néngua Efigênia nomeia em vida, por méritos e competência, sua sucessora e herdeira do trono de Mutakalambo, sua filha caçula Néngua Yá Kunan.

 Com a regência do ano nas mãos de sua Mam'etu Samba Kalunga, a entrada do século XXI trouxe muitas mudanças na vida da jovem Néngua Yá Kunan. No dia 30 de maio de 2000, Néngua Yá Kunan perde o que mais lhe é de valor, falece sua amada mãe biológica e espiritual. Com a força do conforto trazido pelas divindades, Néngua Yá Kunan se transforma em uma guerreira lutando com raça a favor de sua tradição. No mesmo ano, Néngua Yá Kunan descobre aquela que seria a notícia do século. Revela-se no dia 18 de julho de 2001, o nascimento de sua herdeira, Karina de Karamosê.

 De acordo com as normas federativas do culto Lunda-Kioko, todos os adeptos do culto raspados para o nkisi, têm por obrigação na falta de seu zelador passar pelo ritual maku iá nvumbi. No ano de 2008 Néngua Yá Kunan e a Nzo Lunda-Kioko passam pelos processos de makuini maku ia nvumbi (obrigação de retirada das mãos do morto) com o Tata kwa Nkisi Devanir Alves Pereira.

 Com o passar dos anos, houve a perda de identidade dos povos com a grande migração de adeptos de diferentes regiões que influenciaram e miscigenaram o culto da Lunda-Kioko. Muitos adeptos antigos e da atualidade da Lunda-Kioko e candomblé Angola se depararam com uma série de erros que eram efeitos das grandes influencias do culto Yorubá e da umbanda, que se misturaram, gerando uma quantidade absurda de falhas para com os minkisi.

 Néngua Yá Kunan e seu marido, Tata Oní, pesquisador de cultos bantu, vem ao longo desses anos de trabalho à frente da Nzo Lunda-Kioko praticando estudos e resgatando a verdadeira essência trazida pelos negros Lundas, aumentando o espaço físico do (Mabaía) barracão, angariando valores aos rituais das divindades e o mais importante, reimplantando o Kimbundu e Kikongo, esses que até os dias de hoje são os mais agredidos pelos adeptos que não se dispõem a agregar os verdadeiros valores do culto Lunda-Kioko e demais nações, fazendo com que cada dia mais os ensinamentos bantu se percam no tempo.

 No ano de 2017 completam-se 50 anos de registro da Nzo Ji’ndanji Lunda-Kioko, hoje uma casa que projeta dentre os padrões de culto Angola/Kongo, mantendo as tradições e preceitos trazidos pelos negros Lunda-Kioko.

 

 

NÉNGUA KARAMUITÁ

 

 

 Néngua riá Nkisi Karamuitá foi iniciada no culto Lunda-Kioko com apenas três anos e onze meses para o nkisi Nzikaramusinzi, uma divindade do panteão Angola Kassanji. Sendo este nkisi pouco conhecido dentre os adeptos do culto de candomblé no Brasil. Respeitando os preceitos de mona nkisi (filha de santo), Néngua Karamuitá passou por todas as obrigações com competência e dedicação seguindo à sua árvore genealógica de tradição Lunda-Kioko, tornando-se sacerdotisa (Néngua).

No ano de 2012 o nkisi Samba Kalunga, de Néngua Yá Kunan, a aponta para ser herdeira do trono de Mutakalambo Burunguzu, que com muita sabedoria, auxiliada pela Néngua Yá Kunan continuam mantendo os preceitos da nação.